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{terça-feira, novembro 23, 2010}

 
Daquela vez ia ser diferente. Não era um clichê barato como o parece até aqui. As coisas estavam diferentes. Ela era outra, o lugar era outro, o outro era outro. Um alguém na sua frente, mas ela não percebia ainda, não tinha a mínima idéia de que daquela vez ia ser diferente. Ele era mais um. Mais um terráqueo apenas. Duas pernas e dois braços fincados num tronco, cabeça sobre o pescoço, dois olhos, banho tomado, roupa limpa e só. Chega de monstros, de fantasmas, de bichos papões. Ela nem pensava em sexo, em desejo,em amor. Só pensava em dinheiro, e a roleta girava diante dela naquele casino decadente, com um com um S só como escrevem em Portugal e leu no letreiro do lugar, em Monte Estoril. Lugar escuro, decadente e fedorento, que a fez sentir-se velha e mofada pela primeira vez. Se há um fim de linha, é ali.
Rita tinha cruzado o Atlântico com todo o seu medo de avião e suas economias dos últimos oito meses de trabalho. Meses em que deixou de sair à noite, às tardes e nos fins de semana; em que economizou na pipoca do cinema, que deixou de ir ao cinema, que parou fora do shopping pra não pagar estacionamento nos dias em que foi realmente necessário entrar em um shopping. Passou a planejar as compras, os melhores dias, os roteiros pela cidade, economizando a gasolina que gastava com idas e vindas erradas, compras sem lista, saídas com rumos trocados, norte-sul, leste-oeste pela cidade.
A cidade deveria servir a ela. Antes de querer, precisar; antes de precisar, poder. Dinheiro era coisa séria, descobriu. Devia alguns trocados ao banco; andou fazendo financiamentos, pedindo ajuda aos pais, entrando no cheque especial mais do que deveria... Mas ia pagando tudo e parando de fazer novas dívidas. Foi até gostoso conseguir amarrar o cavalo desenbestado de suas finanças. Fez até plástica, mais de uma ao longo da vida, mais de duas vai... Mais de três? Ok, parou de contar seus defeitos. Olhou em volta e viu que defeitos estavam em toda parte, em todas as pessoas. Alguns defeitos davam personalidade a seu dono. Ahn, tá. Era melhor acreditar nisso agora.Rita estava inteira de novo.Inteiramente certa de que a plenitude era um meio, não um fim. Sentir-se plena em poder ser incompleta, ou mesmo adotar seus defeitos e entendê-los até que não fse incomodasse mais em tê-los, ou esquecesse de os nutrir.

posted by me 23.11.10

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